[Crítica] Borat: Fita de Cinema Seguinte

O filme está disponível na plataforma de streaming da Amazon Prime.
Há 14 anos estreava Borat, em que Sacha Baron interpretava o personagem principal, com o mesmo nome do título, um jornalista do Cazaquistão, enviado para a América pelo governo para fazer um documentário sobre o país norte-americano e a cultura daquela população.
Borat interagia com pessoas verdadeiras, fora do elenco normal do filme, em situações hilárias e vergonhosas, especialmente para quem aparecia inusitadamente na história.
Borat, na América de 2006, teve facilidade em criar situações desconcertantes já que era até então desconhecido do grande público, o que lhe permitiu expor o racismo, a homofobia, o antissemitismo e xenofobia que está ainda bem presente nos norte-americanos.
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Este bikini ficou famoso

Atenção: Daqui para frente, contém alguns spoilers da trama de Borat 2.

Borat 2 e a América dos dias de hoje

Estamos em outubro de 2020, os Estados Unidos contam com mais de 200 mil mortos devido à Covid-19, em vésperas das eleições mais importantes da história da democracia norte-americana, e Cohen decidiu desenterrar o esqueleto do seu Borat, numa sequencia arriscada, mas que posso afirmar no fim, bem-sucedida.
O fator surpresa não é mais o mesmo. Claro com o sucesso do primeiro filme, as pessoas estão meio que à espera do que vai ver em Borat 2. O objetivo do segundo filme acaba por ser o mesmo que o primeiro, tratando-se de uma tentativa de desmascarar o pior lado dos norte-americanos e o argumento, escrito por oito pessoas, incluindo Cohen, volta a girar em torno de Borat.
[Crítica] Borat: Fita de Cinema Seguinte 7

Esconde aí Borat

Borat: Fita de Cinema Seguinte então seria uma história de redenção. Responsável por uma enorme vergonha à gloriosa nação do Cazaquistão por conta do primeiro filme, nosso querido repórter é novamente enviado aos Estados Unidos em uma missão para aproximar seu presidente de Donald Trump. Acompanhado por sua filha Sandra Jessica Parker/Tutar (Maria Bakalova), o repórter entra em uma jornada insana que envolve invadir comícios partidários e acampar com conspiracionistas em plena pandemia.
Assistir ao repórter “redescobrindo” os EUA é legal e nostálgico, especialmente porque o texto ácido do filme aproveita as menores brechas para metralhar piadas. O problema é que essa familiaridade acaba diluindo o impacto de algumas situações, já que velhos truques dificilmente impressionam.
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A grade nação do Cazaquistão te ama. Só que não.

Se em 2006 a missão de Borat era surfar em uma onda de preconceitos, agora o alvo são as diferentes faces da extrema-direita, que vai dos negacionistas aos intolerantes e, obviamente, ao atual governo dos Estados Unidos (no momento que escrevi este texto, a eleição esta um embrolio. Biden saiu vencedor, mas Thump não quer largar o osso) e seus aliados. Controvérsias como a proximidade de Donald Trump e Jeffrey Epstein – bilionário condenado por abuso sexual – surgem antes mesmo de o jornalista deixar o Cazaquistão, deixando claro que o lançamento do filme às vésperas da eleição presidencial americana não é mera coincidência.
Como mencionado Borat agora tem a companhia de sua filha Tutar. Mais do que uma substituta para o produtor Azamat (Ken Davitian) como acompanhante do protagonista, Sandra Jessica Parker por vezes rouba os holofotes ao segurar a barra de vergonha alheia estabelecida por Sacha Baron Cohen. É justo dizer que alguns dos melhores momentos do longa só funcionam pela entrega da garota, que não se intimida com o absurdo e a nojeira.
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Borat e a filha

A Química entre a dupla contribui ainda para dar peso ao enredo do filme. A inclusão dela é bem explicada e de forma a não parecer forçada. Com ela o filme encontra várias formas de criticar o machismo da sociedade de uma forma até engraçada.
Outras críticas são diretas ao Facebook e à forma como Mark Zuckerberg se recusa a filtrar as fake news, numa cena em que a personagem interpretada por Balakov diz, para horror de Borat, que acredita que o Holocausto não existiu, porque leu um artigo de opinião no Facebook que dizia isso mesmo. Esta é, aliás, uma luta pessoal de Cohen enquanto ativista, contra as fake news e o perigo que elas constituem na desinformação de uma população menos informada.
Borat: Fita de Cinema Seguinte não é um filme impactante em relação ao seu antecessor mas seu grande feito, como o de qualquer boa piada, está no timing e, no cenário bizarro que temos em 2020, a volta do repórter do Cazaquistão é bem-vinda, então havendo tudo isto, resta-nos rir da estupidez humana espelhada no filme, acompanhados de Borat.
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