[Crítica] Olhos que condenam – Um “soco no estômago” que nos faz pensar
Índice
O quanto sabemos sobre justiça ?
Em primeiro lugar você precisa saber que estamos falando de um seriado baseado em fatos reais.
Em 1989, cinco adolescentes “de cor” foram presos e acusadas de estuprar e espancar uma atleta “branca” no Central Park. Promotores e repórteres tendem a se referir a eles como uma única unidade depois disso, eles acabariam se tornando conhecidos como Central Park Five. Veja o trailer do seriado:
https://www.youtube.com/watch?v=InMokMK3ji4
Olhos que condenam (Quando eles nos veem – título original), é a minissérie da Netflix de Ava DuVernay sobre o que aconteceu com esses meninos, o seriado tira a tendência desumana de juntá-los e mostra como cada um deles lidou individualmente quando foram coagidos a dar falsas confissões, forçando a serem presos por um crime que não cometeram.
AVISO!
A PARTIR DE AGORA TEREMOS ALGUNS SPOILERS DO SERIADO OLHOS QUE CONDENAM.
Os cinco jovens para não dizer crianças são Raymond Santana, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Antron McCray e Korey Wise. Nos vemos no primeiro episódio, eles são apenas adolescentes fazendo coisas de adolescente em uma noite de abril no Harlem. Quando várias crianças começam a correr em direção ao Central Park, cada uma delas segue uma multidão, algumas das quais começam a brigar. Quando os policiais eventualmente intervêm, e os cinco meninos são trazidos e interrogados (inicialmente sem pais e, certamente, sem advogados presentes). No seriado podemos ver, repetidas vezes, detetives obrigando os cinco a admitir envolvimento e/ou incriminar cada um deles.
O estupro e violência praticada contra Trisha Meili, ocorreu na mesma noite em que as brigas e outros assédios eclodiram, criando uma circunstância conveniente demais para apontar o dedo para esses garotos negros e latinos. A promotora Linda Fairstein, interpretada por Felicity Huffman em um momento em que é especialmente fácil vê-la como uma mulher cega de privilégios brancos, tem interesse especial em criar uma narrativa que prenda o crime nelas.
A perda da inocência é um tema que os escritores podem levar romances inteiros para documentar. Ava DuVernay gerencia o mesmo feito em menos de oito minutos. É o tempo todo que leva para que cinco crianças briguem com os pais pela lealdade dos Yankees, persuadam as namoradas a acompanhá-los até o Kennedy Fried Chicken e conte às irmãs sobre seus audaciosos planos de fazer o primeiro trompete na banda da escola. Em um minuto, Kevin Richardson (Asante Blackk) está gentilmente colocando um cobertor sobre sua mãe que está dormindo no sofá, a sala ao seu redor brilhando em uma laranja quente e protetora. No próximo, ele está no frio azul do Central Park, uma figura minúscula com um casaco acolchoado vermelho, fugindo de um policial que arrasta Kevin no chão e o derruba inconsciente com um golpe violento na cabeça.
Os três primeiros episódios seguem dois julgamentos que compreendem o caso dos cinco jovens, que tem uma tendência a se inclinar para o drama, que às vezes pode funcionar e às vezes faz com que a série seja tropeçada em clichês, mas confesso que ao ver como os julgamentos vão acontecendo e os resultados surgindo, você acaba percebendo que “Não existe justiça”. Todos os casos são julgados em última instância, e todos os cinco adolescentes vão para prisão por vários períodos de tempo as penas variam de 5 a 15 anos. O que acontece com cada um deles durante e após o encarceramento e, no final, como suas condenações são nulas e sem efeito.
O quarto e ultimo episódio é focado em Korey Wise que é interpretado por Jharrel Jerome, tanto na adolescência quanto na vida adulta, o episódio é o mais longo de todos possui 88 minutos, e, acreditem esse episódio é surreal e doí ver a forma como foi retratada no seriado a prisão de Korey. Lembrando que Korey só foi para a delegacia para acompanhar o amigo Yusef, e acabou tendo o maior sofrimento ficando preso por 12 anos, e apesar de ter apenas 16 anos quando a sentença foi dada, ele foi o único que foi encaminhado para uma prisão adulta e assim o pior estava por vir. A classificação do ultimo episódio é de 18 anos, Ava não omitiu nenhuma das agressões físicas e psicológicas envolvidas em todo o processo.
Em uma entrevista ao Complex, o ator Jharrel Jerome descreveu como foi dar vida a Korey, que é um dos réus. Ainda que ele tenha interpretado o jovem de uma forma espetacular, o ator pontuou que Olhos que Condenam é uma produção televisiva e que a dor demonstrada não é, em si, o sofrimento do jovem negro. Creio que cada pessoa quando terminar de ver o seriado ficará impactado.
Jharrel Jerome deu um espetáculo de atuação no seriado o que rendeu um Emmy por sua interpretação e se tornou o primeiro afro-latino premiado como melhor ator em uma minissérie para TV.
A conclusão.
Posteriormente, o verdadeiro autor do crime apareceu. Matias Reyes, de 31 anos (também é apresentado na série), confessou ter estuprado quatro mulheres
e matado uma delas. Após amostras de DNA, foi constatado que Reyes era o verdadeiro autor do crime. Assim, em 2002, os meninos acabaram inocentados e libertados.
Logo depois de libertos, os agora homens processaram a cidade de Nova Iorque em 250 mil dólares, pela atuação
da polícia e da justiça que os levou à detenção. Em 2014 ficou decretado que eles receberiam 1 milhão de dólares por cada ano que ficaram presos.
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