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A indústria do entretenimento há muito tempo abraçou os remakes, pois eles garantem uma fonte segura de receita para as produtoras e oferecem a oportunidade de modernizar certas histórias, evitando que fiquem presas no tempo ou, pior, sejam esquecidas pelo público. Apoiar-se em tramas e personagens já conhecidos traz uma vantagem dupla: primeiro, elimina a necessidade de desenvolver um roteiro totalmente novo; segundo, permite aproveitar o efeito nostálgico dos fãs.
Um dos setores culturais que melhor compreendeu a eficácia dos remakes é o dos animes japoneses, onde a demanda por novos conteúdos cresceu rapidamente graças às plataformas de streaming. Além de fazerem parte do imaginário coletivo de diversas gerações, os animes tornaram-se um elemento essencial nos catálogos dos serviços de streaming, segundo a revista Movieplayer.it, devido à sua surpreendente capacidade de atrair espectadores e impulsionar assinaturas. Como consequência, os remakes tornaram-se mais frequentes.
Mesmo quando não se trata de remakes completos, muitas séries revisitavam fórmulas narrativas já exploradas no passado, que, por algum motivo, se mostraram bem-sucedidas. Cristina Bignante, especialista em anime, já destacava essa tendência em 2017 na Fumettologica:
“É inegável que, a cada temporada, são lançados dezenas de títulos que apenas reciclam fórmulas já testadas, com as mesmas tramas, as mesmas situações e os mesmos tipos de personagens.”
Remakes: fidelidade à obra original ou mera estratégia comercial?
Além das razões econômicas, alguns remakes são produzidos com o objetivo de oferecer ao público uma adaptação mais fiel da obra original. No entanto, nem todos os fãs veem essas novas versões com bons olhos. Para alguns, os remakes representam uma traição à essência do anime original, sendo considerados meras operações comerciais.
Embora essa visão seja sustentada por uma minoria de fãs, a insatisfação gerada por certos remakes é levada em consideração dentro da indústria. Como argumenta Bignante, essa crítica, mesmo quando vem de um grupo pequeno, pode ser valiosa:
“Eu nunca acusaria alguém de não amar cinema ou literatura só porque não aprecia todos os filmes que estreiam nos cinemas ou todos os romances que lideram as listas de mais vendidos; então, por que deveria ser diferente para os animes?”
O anime que começou tudo
Por muito tempo, os animes japoneses foram produzidos para públicos-alvo bem específicos. No entanto, a partir dos anos 1980, essas produções passaram a atrair uma audiência mais ampla, incluindo espectadores ocidentais. Essa mudança se deu graças a um anime que, até hoje, é considerado o maior sucesso internacional do gênero e que, curiosamente, ainda não recebeu um remake, sendo apenas relançado periodicamente nos cinemas em seus aniversários. Esse anime é Akira, longa-metragem animado de Katsuhiro Otomo, lançado no Japão em 1988.
Ao lado das obras mais famosas do Studio Ghibli, Akira é, sem dúvida, um dos animes mais icônicos de todos os tempos. Os anos 1980 marcaram um ponto de virada para a indústria da animação japonesa, com uma nova geração de criadores revolucionando o setor e experimentando conteúdos mais ousados, capazes de transcender as barreiras culturais do Japão.
A influência global de Akira e a expansão dos animes
A partir dos anos 1970, as animações japonesas começaram a se expandir continuamente, sendo vistas no exterior como produtos inovadores e experimentais. Até mesmo os longas-metragens animados conseguiram conquistar um espaço próprio no mercado global, o que abriu caminho para a criação de Akira, um filme tão ambicioso e sofisticado que, posteriormente, influenciou incontáveis produções, incluindo o cinema tradicional.
Até hoje, nenhum outro anime teve um impacto cultural comparável ao de Akira. Nos Estados Unidos, sua influência foi tão grande que levou à fundação da Manga Entertainment, distribuidora que desempenhou um papel crucial ao longo dos anos ao trazer para o mercado ocidental títulos que mais tarde se tornariam clássicos queridos de diversas gerações, como:
- Pokémon
- Dragon Ball
- Neon Genesis Evangelion
- Ghost in the Shell
Com o crescimento da indústria e a demanda cada vez maior por remakes, resta a pergunta: será que Akira, um dos maiores marcos da história da animação, também ganhará sua própria releitura moderna no futuro?