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Hayao Miyazaki, o lendário criador por trás dos filmes do Studio Ghibli, é conhecido por seu perfeccionismo e por seu olhar crítico — especialmente quando o assunto é o próprio universo do anime. Muitas vezes descrito como mal-humorado ou até mesmo desencantado com a indústria, Miyazaki raramente elogia outras obras abertamente. Porém, existe uma exceção surpreendente: o revolucionário anime dos anos 90, Neon Genesis Evangelion, de Hideaki Anno.
Essa admiração não é pouca coisa. Evangelion é um dos poucos animes que contam com aprovação explícita de Miyazaki, e essa conexão entre os dois mestres da animação japonesa vai muito além do respeito profissional — envolve amizade, colaboração e até mesmo momentos pessoais profundos que marcaram suas vidas.
Miyazaki e Anno: uma amizade entre gênios

A relação entre Hayao Miyazaki e Hideaki Anno é muito mais do que cordial. Os dois compartilham uma história longa e cheia de nuances. Anno começou sua carreira trabalhando como animador em Nausicaä do Vale do Vento, uma das primeiras grandes obras de Miyazaki. Apesar de Miyazaki ter inicialmente reclamado do “jeito estranho” de Anno — mencionando até seu estilo de se vestir e hábitos de higiene —, ele reconheceu o talento do jovem animador e o acolheu como aprendiz.
️ Essa relação amadureceu com o tempo. Anno chegou a dublar o protagonista de Vidas ao Vento (The Wind Rises), de Miyazaki, sendo substituído por Joseph Gordon-Levitt na versão em inglês. E não parou por aí: Miyazaki chegou a telefonar para Anno durante um momento de depressão profunda, ajudando-o a reencontrar forças em meio ao desespero.
Evangelion: o anime que conquistou Miyazaki
Lançado em 1995, Neon Genesis Evangelion transformou completamente o cenário do anime. Com uma narrativa psicológica intensa, simbolismo religioso e uma abordagem filosófica sobre a adolescência, o anime se tornou referência mundial e hoje é considerado um clássico absoluto. Mas o que realmente torna essa história ainda mais fascinante é o apoio pessoal de Miyazaki à obra.
️ No documentário Hideaki Anno: The Final Challenge of Evangelion, Miyazaki revela que insistiu para que Anno finalizasse Evangelion, durante o período em que os filmes Rebuild of Evangelion ainda estavam incompletos. O fato de alguém tão exigente como Miyazaki pedir diretamente a um colega para concluir sua obra revela o nível de respeito e admiração que ele tem por Evangelion.
Um elo criativo: simbolismo e emoção
Embora seus estilos sejam diferentes, Miyazaki e Anno compartilham algo fundamental: a capacidade de transformar o íntimo em arte. Ambos constroem mundos simbólicos, ricos em metáforas visuais e cheios de sentimento — não apenas pelas histórias que contam, mas por como escolhem contá-las.
- Miyazaki é conhecido por sua abordagem intuitiva e baseada em emoções — uma “narrativa guiada por sensações”, como ele mesmo descreve.
- Anno, por sua vez, usou Evangelion como uma catarse emocional e psicológica, traduzindo suas próprias crises existenciais em uma obra que ressoa com milhões de espectadores até hoje.
É essa sinergia emocional que une as duas mentes criativas. Ambos citam inspirações semelhantes, como Lewis Carroll (Alice no País das Maravilhas) e Roald Dahl (James e o Pêssego Gigante), autores conhecidos por fundir o fantástico com o sombrio. Evangelion carrega esse mesmo espírito: um mundo de ficção científica onde robôs gigantes colidem com os traumas mais humanos.
Do deserto do Saara ao altar: histórias reais entre os dois
A amizade entre Miyazaki e Anno ultrapassa o campo profissional. Na década de 1990, os dois embarcaram juntos em uma viagem de avião pelo deserto do Saara, seguindo a rota de Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe. Miyazaki também discursou no casamento de Anno, e este criou um curta especial para o Museu Ghibli, demonstrando a profundidade do laço entre os dois.
E como se isso não bastasse, o Studio Ghibli chegou a animar partes do episódio 11 de Evangelion, uma colaboração rara que destaca o quanto Miyazaki confiava no projeto e em seu criador.
Evangelion e Ghibli: duas faces da mesma alma artística
Embora Neon Genesis Evangelion e os filmes do Studio Ghibli pareçam muito diferentes à primeira vista, ambos compartilham algo essencial: são obras feitas com alma. São projetos de paixão, construídos por criadores que derramaram suas próprias emoções e visões de mundo em cada frame.
- Evangelion é caótico, filosófico e emocionalmente cru.
- Os filmes de Miyazaki são poéticos, melancólicos e profundamente humanos.
E é exatamente por isso que faz todo o sentido Miyazaki amar Evangelion: ambos refletem a busca incessante por significado em um mundo que muitas vezes não oferece respostas fáceis. Em Evangelion, assim como em A Viagem de Chihiro ou Princesa Mononoke, cada detalhe é simbólico, cada personagem carrega dores reais, e o final pode ser tão enigmático quanto libertador.
Conclusão: dois mestres, um legado imortal
Hayao Miyazaki e Hideaki Anno são dois titãs da animação japonesa que encontraram um no outro não apenas um colaborador, mas um espelho. Suas jornadas artísticas se entrelaçam de formas profundas e emocionantes. Neon Genesis Evangelion com certeza é uma das poucas obras que conseguiu quebrar a rigidez crítica de Miyazaki — e isso, por si só, é um selo de aprovação mais poderoso do que qualquer nota ou prêmio.
✨ Ambos são criadores que transformaram a indústria, e juntos, deixaram um legado que vai continuar inspirando gerações de artistas e sonhadores ao redor do mundo.
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