[Crítica] Olhos que condenam – Um “soco no estômago” que nos faz pensar

O quanto sabemos sobre justiça ?

Em primeiro lugar você precisa saber que estamos falando de um seriado baseado em fatos reais.

Em 1989, cinco adolescentes “de cor” foram presos e acusadas de estuprar e espancar uma atleta “branca” no Central Park. Promotores e repórteres tendem a se referir a eles como uma única unidade depois disso, eles acabariam se tornando conhecidos como Central Park Five. Veja o trailer do seriado:

Olhos que condenam (Quando eles nos veem – título original), é a minissérie da Netflix de Ava DuVernay sobre o que aconteceu com esses meninos, o seriado tira a tendência desumana de juntá-los e mostra como cada um deles lidou individualmente quando foram coagidos a dar falsas confissões, forçando a serem presos por um crime que não cometeram.

AVISO!
A PARTIR DE AGORA TEREMOS ALGUNS SPOILERS DO SERIADO OLHOS QUE CONDENAM.

 

Olhos que condenam

Olhos que condenam

Os cinco jovens para não dizer crianças são Raymond Santana, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Antron McCray e Korey Wise. Nos vemos no primeiro episódio, eles são apenas adolescentes fazendo coisas de adolescente em uma noite de abril no Harlem. Quando várias crianças começam a correr em direção ao Central Park, cada uma delas segue uma multidão, algumas das quais começam a brigar. Quando os policiais eventualmente intervêm, e os cinco meninos são trazidos e interrogados (inicialmente sem pais e, certamente, sem advogados presentes). No seriado podemos ver, repetidas vezes, detetives obrigando os cinco a admitir envolvimento e/ou incriminar cada um deles.

O estupro e violência praticada contra Trisha Meili, ocorreu na mesma noite em que as brigas e outros assédios eclodiram, criando uma circunstância conveniente demais para apontar o dedo para esses garotos negros e latinos. A promotora Linda Fairstein, interpretada por Felicity Huffman em um momento em que é especialmente fácil vê-la como uma mulher cega de privilégios brancos, tem interesse especial em criar uma narrativa que prenda o crime nelas.

Antron McCray, Kevin Richardson, Raymond Santana, Yusef Salaam e Korey Wise ( os 5 verdadeiros)

Antron McCray, Kevin Richardson, Raymond Santana, Yusef Salaam e Korey Wise ( os 5 verdadeiros)

A perda da inocência é um tema que os escritores podem levar romances inteiros para documentar. Ava DuVernay gerencia o mesmo feito em menos de oito minutos. É o tempo todo que leva para que cinco crianças briguem com os pais pela lealdade dos Yankees, persuadam as namoradas a acompanhá-los até o Kennedy Fried Chicken e conte às irmãs sobre seus audaciosos planos de fazer o primeiro trompete na banda da escola. Em um minuto, Kevin Richardson (Asante Blackk) está gentilmente colocando um cobertor sobre sua mãe que está dormindo no sofá, a sala ao seu redor brilhando em uma laranja quente e protetora. No próximo, ele está no frio azul do Central Park, uma figura minúscula com um casaco acolchoado vermelho, fugindo de um policial que arrasta Kevin no chão e o derruba inconsciente com um golpe violento na cabeça.

Olhos que condenam (Netflix)

Olhos que condenam (Netflix)

Os três primeiros episódios seguem dois julgamentos que compreendem o caso dos cinco jovens, que tem uma tendência a se inclinar para o drama, que às vezes pode funcionar e às vezes faz com que a série seja tropeçada em clichês, mas confesso que ao ver como os julgamentos vão acontecendo e os resultados surgindo, você acaba percebendo que “Não existe justiça”. Todos os casos são julgados em última instância, e todos os cinco adolescentes vão para prisão por vários períodos de tempo as penas variam de 5 a 15 anos. O que acontece com cada um deles durante e após o encarceramento e, no final, como suas condenações são nulas e sem efeito.

O quarto e ultimo episódio é focado em Korey Wise  que é interpretado por Jharrel Jerome, tanto na adolescência quanto na vida adulta, o episódio é o mais longo de todos possui 88 minutos, e, acreditem esse episódio é surreal e doí ver a forma como foi retratada no seriado a prisão de Korey. Lembrando que Korey só foi para a delegacia para acompanhar o amigo Yusef, e acabou tendo o maior sofrimento ficando preso por 12 anos, e apesar de ter apenas 16 anos quando a sentença foi dada, ele foi o único que foi encaminhado para uma prisão adulta e assim o pior estava por vir. A classificação do ultimo episódio é de 18 anos, Ava não omitiu nenhuma das agressões físicas e psicológicas envolvidas em todo o processo.

Em uma entrevista ao Complex, o ator Jharrel Jerome descreveu como foi dar vida a Korey, que é um dos réus. Ainda que ele tenha interpretado o jovem de uma forma espetacular, o ator pontuou que Olhos que Condenam é uma produção televisiva e que a dor demonstrada não é, em si, o sofrimento do jovem negro. Creio que cada pessoa quando terminar de ver o seriado ficará impactado.

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Asante Blackk, Jharrel Jerom, Caleel Harris, Ethan Herisse e Marquês Rodriguez (Elenco Jovem – Olhos que condenam)

Jharrel Jerome deu um espetáculo de atuação no seriado o que rendeu um Emmy por sua interpretação e se tornou o primeiro afro-latino premiado como melhor ator em uma minissérie para TV.

A conclusão.

[Crítica] Olhos que condenam - Um "soco no estômago" que nos faz pensar 5

Os 5 Reais do CEntral Park

Posteriormente, o verdadeiro autor do crime apareceu. Matias Reyes, de 31 anos (também é apresentado na série), confessou ter estuprado quatro mulheres

e matado uma delas. Após amostras de DNA, foi constatado que Reyes era o verdadeiro autor do crime. Assim, em 2002, os meninos acabaram inocentados e libertados.

Logo depois de libertos, os agora homens processaram a cidade de Nova Iorque em 250 mil dólares, pela atuação

da polícia e da justiça que os levou à detenção. Em 2014 ficou decretado que eles receberiam 1 milhão de dólares por cada ano que ficaram presos.

 

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As pessoas reais que tiveram suas histórias contadas, e a diretora Ava DuVernay

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